Sabes?
Sabes das chaves do carro, das chaves de
casa? Sabes dos caminhos e dos horários? Sabes dos outros?
E de ti? Sabes-te? Sabes onde guardas os
sorrisos e para onde atiras as lágrimas que não queres usar? Sabes se não
trazes os sorrisos apertados e se não estás na iminência de te afogares num mar
salgado que nem conheces?
Para além do espelho pendurado na parede e
dos espelhos nos olhares alheios, quem és, o que vês se te olhares? Se te
atreveres? Se entre os tempos para tudo encontrares tempo e se nesse tempo
fechares os olhos e os punhos, te cobrires de solidão e desceres a um nível
superior de realidade, a superior realidade do fundo de ti… encontras-te?
Se os telemóveis e os tablets e os
computadores e a televisão e toda a sacrossanta virtualidade que te prende o
cérebro por bits e bytes forem erradicados e te vires no teu silêncio, nu de
«gostos» e de «likes» e de visualizações… quem és? Ou – mais importante – quem
podes ser?
No carro, em casa, depois dos caminhos
percorridos, dos horários cumpridos, de todos os outros e à revelia da
tecnologia, no tempo que é só tempo que conseguiste descobrir: vês-te? Sentes
que existes e que vives para além da aparência de vida? Tens calos dos
caminhos, tens feridas na alma, tens buracos negros no coração, tens lágrimas
secas sob o olhar e sorrisos no rosto que teimam em não o deixar? E uma malha
intrincada de contradições e medos e angústias e gargalhadas e gritos e
sussurros que não entendes: tens?
Quanto de ti são pinceladas que vistas de
longe são incompreensíveis mas que daí – de dentro de ti nesse cantinho de onde
te olhas – são verdade e sentido e lógica?
Anda… Sai de mim, vai-te! Tens tanto para
ser…
Mais um excelente texto.
ResponderEliminarCom tantas perguntas... e quase todas elas tão inquietantes...
Minha querida amiga, desejo-lhe uma óptima semana.
Abraço.